Ensinando sem Violência


Cavalos trazem em sua evolução uma memória infalível, pois necessitam disto por serem animais de fuga e, na fuga, a memória é fundamental. Se vão correr, para onde devem ir? Ao mesmo tempo, a memória lhes fornece as informações vitais como os locais de aguadas e de pastagens, por exemplo.
Por conta desta memória, tudo o que lhes ocorre durante a vida, fica registrado de alguma maneira em sua mente. Estas memórias são intensificadas em eventos traumáticos ou de grande stress, o que torna consideravelmente mais difícil de mudar em outro momento. Portanto, imaginem o se ocorre com a mente dos animais quando passam por domas violentas ou em interações com o ser humano que são traumáticas... Será que vão querer estar próximo de nós ou, na primeira oportunidade, vão fugir?
O cavalo, mesmo domesticado há anos, ainda tem em sua essência a liberdade, logo o processo de doma não é algo totalmente normal para eles. Neste sentido, uma abordagem respeitosa tende a tornar a doma e a interação com humanos mais natural e aceita por eles. Isso cria maior conexão entre cavalo e cavaleiro, trazendo benefícios para ambos.
Quando essa conexão não existe ou é falha, assim como a lida com o cavalo não é adequada, maus comportamentos podem surgir. Neste momento se faz necessário reiniciar o processo de vínculo, criando novas experiências para sobrepor aquelas memórias ruins. Com respeito, consegue-se mudar a forma de agir e retomar a boa relação com o cavalo, contudo, se as atitudes com o cavalo não mudarem após a correção, os maus comportamentos podem voltar, afinal, o cavalo tem uma memória infalível - tanto para o bem, quanto para o mal.
~ Sandro Fucolo ~
Doma
Doma pra mim é um processo de relação, de entrega, de ver o mundo pelos olhos do outro, de respeito, de ver as dificuldades alheias e mostrar os caminhos com segurança.
Cavalos e homens falam línguas diferentes e quando se chega a um entendimento, isso é Horsemanship. Portanto, não é uma técnica de doma, mas sim uma filosofia de vida que trago comigo e tento passar para quem realmente quer aprender a ver o mundo pelos olhos dos outros.
Chega de imposição com cavalos, pois temos, como humanos, muitas dívidas para com eles. Várias conquistas que tivemos na história foram à pata de cavalo. Escravidão não cabe mais nos dias de hoje.
Sem violência teremos mais cavalos felizes e não apagaremos deles a vontade de aprender. Doma não termina. Cavalos que não são maltratados não se posicionam em zona de conforto e estão sempre dispostos para qualquer aprendizado.
Trabalho com cavalos de todas as raças.


Essa lista é grande, como não aceitar o ferrageamento, dificultar a colocação do freio, não facilitar a administração de medicamentos e por aí vai...
Mas o importante é que para todos os problemas, existe uma técnica à ser trabalhada que permite a melhora destes comportamentos.
Enfim, esse novo objetivo terminou me ensinando muito. Aprendo diariamente com eles e isso me torna mais apto a trabalhar com todos e obter, cada vez mais, melhores resultados.
Correção Comportamental
No trato com o cavalo, sempre gostei da etologia que é a ciência do comportamento equino. Esses animais, quando retirados do seu habitat natural, muitas vezes, passam a apresentar comportamentos indesejados, bizarros e estereotipados.
Nas minhas vivências no meio do cavalo, fui percebendo a grande recorrência de proprietários com relatos sobre comportamentos indesejados de seus cavalos, com isso, eu que já trabalhava com a doma, passei a focar mais na correção desses animais incríveis.
Dos comportamentos citados, um dos problemas mais comuns era de cavalos que não param para montar. Este problema surge, pois hoje em dia, o perfil do usuário de montaria mudou muito. Já não são mais ginetes acostumados com a lida do campo, mas pessoas comuns que querem um animal dócil e sereno. Parar para montar é agora um predicado desejável.
Além disso, entrar em reboque para transporte é outra condição que frequentemente causa problemas. O cavalo precisa ser ensinado e precisa perder o medo do embarque e do desembarque. Também existem os cavalos hostis que disparam, mordem ou atacam e também precisam de uma “escolinha” para aprenderem a conviver com seus cuidadores.