RP 03 - Maus Tratos e Fome, Nunca Mais!
- Sandro Fucolo

- Apr 19, 2016
- 4 min read
Updated: Apr 25, 2022
Gosto de escrever textos sobre cavalos que estão sob meus cuidados e acho até que demorei para escrever sobre a Guria (nome da égua apelidada de Negrinha). Na mesma época que a Guria veio, em meados de 2013, fiz um texto sobre outra égua, Guapa do Nativismo – comentado no RP 02 –, pois suas histórias se misturam de certa forma. Por esse motivo, quero lembrar um trecho que elucida este:
“Tenho um grande amigo de cavalgadas, e hoje cliente. Um cara nota dez mesmo. Orgulhoso de seus cavalos e principalmente do mais velho que atende pelo nome de Guri [...]. Em setembro de 2013, ele me comunicou que tinha uma potra gateada tapada para trazer para meus cuidados, pois estava em um campo muito magro de pasto, onde ele pagava para colocá-la e não estava indo lá por um bom tempo. Chegando ao local, me “caíram os butiás do bolso!”. Nunca vi tamanho desleixo com cavalos.
Já na porteira, havia um cavalo morto; logo adiante, outro também morto atolado em um canal de lavoura; um potro sem uma orelha; uma égua morta com uma potrinha picaça linda ao lado do corpo da mãe – ela hoje também está comigo, pois a busquei no outro dia –, cavalos muito magros em geral. Cenas de chorar!
A gateada, de nome Guapa do Nativismo estava encostada no arame, como que esperando a morte. Cheguei com o buçal e o coloquei sem nenhuma resistência de sua parte, parecia que estivesse esperando pelo salvamento daquele circo de horrores. Veio como uma princesa. Entrou no reboque como se ele fosse a porta do paraíso. Chegando aqui em casa, recebeu água, comida, vermífugo e um piquete junto com outra égua e no outro dia, a tal picaça veio para ser sua companheira...”

Pois bem, a tal picaça, hoje recuperada, já mais adulta e chamada por mim de “Negrinha”, está em fase de escolarização – doma para a maioria. Tem poucas montadas e já se tem mostrado uma égua de confiança, de tal maneira que seu dono já a monta nos finais de semana. Negrinha traz em sua linhagem animais de sangue quente, temperamentais, apurados para função.

A fruta não cai longe do pé e Negrinha saiu aos seus. Não degenerou. Em determinados momentos, essa genética vem à tona em sua escolarização e Negrinha “vira o fio”, como se diz aqui no Sul. Comportamentos que sei que seriam mal interpretados por muitos e provavelmente o “mango comeria”.
Se o manejo que tivemos com ela não fosse pautado no respeito, na confiança e na verdade, não sei se Negrinha teria se mostrado como ela é hoje. Tem um belo futuro pela frente e um dono que a ama. Em nenhum momento de sua iniciação tentou tirar quem está montado de cima, nem nos momentos de maiores dúvidas de sua parte.
Seres humanos não são seus problemas, foram sua salvação em um momento difícil de sua vida, quando a fome fez parte e a falta da mãe morta pela velhice e o descaso, foram humanos que a salvaram, que a alimentaram como devia. Gratidão? Não sei.
Hoje, sentado na beira do redondel, em pleno outono, vendo as folhas da figueira e da timbaúva caírem, olho e vejo uma égua picaça linda caminhando solta depois do trabalho. Nada se parece com aquela potrinha feia, preta e peluda, com olhos arregalados de medo e de uma magreza de dar dó.

O que mais me motiva em meu trabalho com cavalos é poder fazer parte de uma mudança de consciência das pessoas. Mudando a forma de ver e sentir cavalos, agregando valor em suas vidas, são fatos que farão que mudem suas atitudes e se transformem em multiplicadores de um conceito diferente do que conhecem. É motivador ver nos olhos das pessoas o quanto elas percebem que podem mudar sua comunicação com seus cavalos. Isto não tem preço.
Bom, teremos um curso dia sete e oito de maio e a Negrinha será apresentada pela primeira vez. Está chegando a hora da entrega para o dono e para minha sorte e a dela, continuará sob meus cuidados.
Resumindo um pouco de tudo isso, trago este texto com referência de outro que escrevi sobre doma e entrega de cavalo:
“Doma para mim é um processo de relação, de entrega, de ver o mundo pelos olhos do outro, de respeito, de ver as dificuldades alheias e mostrar os caminhos com segurança. Cavalos e homens falam línguas diferentes e quando se chega a um entendimento, surge o Horsemanship.
Horsemanship não é uma técnica de doma, mas sim uma filosofia de vida que trago comigo e tento passar para quem realmente quer aprender a ver o mundo pelos olhos dos outros. Chega de imposição com cavalos, pois temos, como humanos, muitas dívidas para com eles. Várias conquistas que tivemos na história foram à pata de cavalo.
Escravidão não cabe mais nos dias de hoje. Sem violência teremos mais cavalos felizes e não apagaremos deles a vontade de aprender. Doma não termina. Cavalos que não são maltratados não se posicionam em zona de conforto, estão sempre dispostos para qualquer aprendizado. ”
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