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RP 05 - Deitar Cavalos! Haja o que "Hajar"!

  • Writer: Sandro Fucolo
    Sandro Fucolo
  • Feb 28, 2022
  • 4 min read

Nas últimas semanas tenho recebido muitas perguntas sobre como deitar cavalos. Não sei qual o motivo que esse procedimento traz tanto interesse nas pessoas, pois acredito ser apenas mais um aprendizado e uma comunicação mais efetiva e sem ruídos, tanto para mim como para os cavalos que tenho trabalhado.



Porém, antes de tentar ajudar, gostaria de jogar algumas questões:

  • A que ponto anda a comunicação entre você e seu cavalo?

  • Ele confia em você?

  • Ele responde bem aos seus comandos mais básicos?

  • Ele foge quando você tenta pegá-lo?

  • Como o é manejo diário dele?

  • Quem cuida dele diariamente é qualificado?

  • Quando você ou o tratador dá o banho, ele entra em pânico?

  • Ele fica parado para ser montado?

  • Ele levanta as patas bem para ser ferrado ou tem que ser agarrado à força?

  • Quais são seus medos e anseios?

  • Você está tentando tirar os medos dele?

São apenas algumas poucas questões a serem levantadas, para que possamos pensar em começar o procedimento. Sério mesmo!


Se tiverem medo, só vão querer uma coisa: fugir. Cavalos são animais que fogem de qualquer coisa que lhes possa causar medo. Evolutivamente foram transformados em máquinas de fuga em qualquer situação negativa.


Quando conhecemos uma pessoa, não podemos ser invasivos ao ponto de chocar. Como homem, não posso conhecer uma mulher em um local qualquer e partir logo para os finalmente – se é que me entendem. No mínimo, tenho que ter o consentimento para qualquer coisa. Passar a mão no cabelo antes de perguntar o nome, acredito, não ser muito adequado. A fuga será inevitável e um muro será criado nessa relação que, para transpor futuramente, será bem difícil. Acreditem, com cavalos não é diferente.


Muito comum me chegarem cavalos para doma já tosados e com a cola aparada.

Não podemos pular etapas. Cavalos prezam as patas, não vão se posicionar vulneravelmente para qualquer um. Seja ele seu dono ou o carinha que coloca bóia no cocho. Se não existir confiança, não vai rolar mesmo. Se acontecer algo parecido com deitar, vai ser por imposição e não deitar por espontaneidade, o que é bem diferente. Com pessoas não é da mesma forma? Não queira para o próximo o que você não quer para você. Já dizia minha avó: Respeito é bom e conserva os dentes. Não meça força com seu cavalo, você vai perder.


Tive um trabalho com uma égua zaina, uma pintura de animal, Aurora do Itapevy, com um papel impecável. Seu dono, Joao Felipe Adamy, que por falta de conhecimento, colocou-a na doma com um domador, que não vem ao caso agora, mas que o manejo era extremante brutal. Seu “queixo foi quebrado” duas vezes e os resultados nem perto do esperado, tanto que uma das queixas, quando chegou, era que ela disparava. Sem contar que o “carinha” quase a matou afogada; isso mesmo, afogada!


Tentou lidar com ela amarrada em um palanque próximo a um açude, por algum motivo desconhecido dele, ela ficou agitada, então ele a maneou. Ela sentou, forçando o cabresto que veio a arrebentar, então a coitada caiu maneada no açude e quase morreu afogada. Olha o absurdo do “quera”. Foi ai que João questionou seus métodos e tirou a coitada das mãos desse sei lá quem.


Busquei ilustrar este texto com a história da Aurora, pois tinha comentado anteriormente sobre pular etapas e com ela foi assim. Aurora não deixava tocar no pescoço e me chegou tosada. Após algum tempo de trabalho, ela estava deitando, mas tosar não permitia ainda e de forma alguma. Fato esse que me tirou algumas noites de sono, pois sabia que se não obtivesse resultados positivos, ela poderá sofrer futuramente.

Já havia usado todos os recursos que conhecia e não estávamos tendo resultados em um procedimento simples, mas não pulei etapas com ela, apenas lhe ensinei coisas novas usando a linguagem que ela conhece. Pressão e alivio de pressão, recompensando as atitudes positivas.


Voltando ao foco do post...Portanto, deitar um cavalo requer treinamento e conhecimento de sua natureza, onde o relacionamento está baseado na confiança. Aprenda a observar seu cavalo, respeite seu tempo, entenda que ele aprende por pressão e alivio, veja o mundo pelos olhos dele, aprenda a pedir e não obrigar.


Entenda também, que cavalos são animais de fuga. Toda vez que sentirem medo, irão acionar seu meio de defesa principal que é a fuga. Dispa-se de seus egoísmos quando estiver com seu cavalo, seja verdadeiro que os resultados aparecem.


Quando você entender um pouco mais sobre eles, irá perceber que deitar é apenas mais um exercício. E se você não gostar do texto por não ter uma “receita de bolo”, entenda que cada cavalo é um indivíduo único e que te ensinar a deitar um cavalo dando um guia prático, seria muita irresponsabilidade de minha parte. E se der errado? Será que quem tentar vai ser claro com ele? Tenho responsabilidade com cavalos, mesmo com os que eu não conheço.


PS. Para quem ficou curioso sobre o desfecho da Aurora, passaram-se mais uns dias de trabalho e ela já estava sendo tosada até mesmo solta dentro do redondel. Cada dia trabalhado com ela foi um grande aprendizado. Mais importante que ensinar cavalos é aprender com eles para poder ajudar outros no futuro.


O cavalo do vídeo não é a Aurora, mas foi a quarta vez que pegava para deitar. Na terceira vez já havia deitado, tanto que pode notar que ele entende o que era para fazer, mas hesita no primeiro momento. Somente segurei de leve sua mão para ele saber que ainda não tinha acabado e solicitei novamente para deitar.


Reparem em como ele deita devagar. Durante o trabalho com esse cavalo, percebi que ele tinha medo de deitar e me machucar. Olhem só! Ele se preocupava comigo. Percebendo isso, tomava um pouco mais de distância dele, assim se sentia mais seguro.




 
 
 

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“Inferior a todos os seus pares no reino animal – enxergando menos, escutando menos, menos veloz, menos ágil e menos forte, o homem fatalmente seria um escravo. O cavalo fez dele um rei.”

Al Mutanabbi (séc. X).

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