RP 07 - Ter Paciência para Ensinar Cavalos Pode Ser uma Qualidade, Mas Basta?
- Sandro Fucolo
- Oct 15, 2022
- 4 min read
Participo de uma cavalgada que vai de Guaíba a Pelotas por vários anos. Ela tem cunho histórico, pois refaz os caminhos das charqueadas, chamada de Cavalgada Cultural da Costa Doce, é organizada por uma pessoa extremamente campeira e um verdadeiro apaixonado pela nossa cultura e pelos cavalos, o Sr. Carlos Gonçalves.
Com o passar dos anos, fiz grandes amigos de cavalgada, pois são dez dias cavalgando com as mesmas pessoas, que sabem minha forma de lidar com cavalos. O relato, a seguir, tem a ver com essas pessoas e com um evento ocorrido nessa cavalgada e diz respeito a ter paciência para atingir resultados com o cavalo.

Professor Osvaldo é um emblemático parceiro do grupo e se juntou a nós um pouco antes de São Lourenço do Sul. Quando me viu, veio logo pedir ajuda sobre comportamento equino com um relato mais ou menos assim:
“Sandro, comprei um cavalo crioulo domado, manso e de pelagem negra, como sempre tive vontade, mas estou tendo dificuldades com ele. Faz um ano que tentamos colocá-lo na cocheira e não estamos conseguindo. Ele não entra de forma alguma. Quando chega à porta, faz o diabo e não entra. Tentamos colocar o cocho no centro da cocheira – ele até dá uma bocada, mas vira e sai correndo. Não dá nem tempo nem de fechar a porta da baia e, trazê-lo pelo cabresto, nem pensar. Eu e minha filha somos contra a violência, não queremos bater e nem que batam, mas não estamos sabendo lidar com a situação. Reboque é outra grande dificuldade, tu não tens ideia do que passamos para chegar até aqui com ele. Já estamos pensando em vendê-lo.”
Pedi que me trouxessem o cavalo. Lindo e muito bem cuidado. Colocamos um buçal e começamos o trabalho pela parte mais difícil para ele: entrar no reboque. Aproximei-me da rampa e quando o cavalo viu o que iria acontecer, empinou. Se não controlo o cabresto com uma pressão, teria caído de costas. Cheguei a queimar minha mão.
Vi que ali havia um grande problema e que teria que apresentar o reboque para o animal. Mostrar para ele que aquilo não era o diabo como ele pensava. Nesse meio tempo, notei que se juntara um grande número de pessoas para assistir os acontecimentos. Umas trinta pessoas, foram se acomodando como podiam. Algumas sentadas, outras de pé. Cheguei a escutar os absurdos de sempre. Dicas do que fazer, mas isso não vem ao caso agora.
Depois de uns quinze minutos de muita “paciência”, o cavalo entrou. Pedi que no outro dia, quando chegássemos a São Lourenço, que me trouxessem o cavalo novamente para o colocarmos no reboque.

Em um final de tarde, próximo à Casa das Sete Mulheres, casa que pertencera a Don’ Ana, irmã do Gal. Bento Gonçalves, quando estávamos acampados e sentados à sombra num pleno tórrido janeiro, apareceu-me o Professor cabresteando seu cavalo para um reforço do que tinha aprendido no dia anterior. Nosso reboque já se encontrava por perto. Posicionei o cavalo e não teve nem graça: entrou como se ali fosse o céu dos cavalos, com todos os tipos de pastos e rações saborosas a sua disposição. Nem bola deu. Foi quando escuto: “Viu, é só ter paciência!”. Até o Professor ficou surpreso em ouvir aquilo.
Pensei: P.Q.P., estudo um monte sobre comportamento equino e aprendo a cada dia com os meus cavalos e os cavalos hotelados que tenho aqui, para um M. me dizer isso. Não me “restou um butiá no bolso”. Nem respondi para o sujeito. Nesse momento, realmente tive que ter paciência para não pular na jugular do “quera”.

Gente, cavalos prezam suas patas, sabem e trazem em sua genética esse aprendizado, pois se as machucarem, serão presas fáceis na natureza.
Para entrarem em um reboque com piso incerto, eles necessitam entender o que se passa e precisam confiar no processo. Além de terem que vencer o sentimento claustrofóbico natural de um animal que evoluiu para os grandes espaços. Se eu não soubesse disso, bastaria ter paciência? Claro que não.
Cavalos aprendem por pressão e alivio de pressão. Quando tentamos ensinar algo, damos uma pressão (sem violência), e quando eles entendem, aliviamos essa pressão. Pergunto novamente. Basta ter paciência? Tenho que responder?
Outra coisa, cavalos são claustrofóbicos por natureza. Existem alguns exercícios de solo para diminuir o medo de lugares apertados. Não bastaria chegar à entrada do reboque e ter uma paciência de Jó e ficar esperando que ele, quem sabe um dia, talvez possa entrar no reboque.
Todos esses temas abordados aqui sobre comportamento são apenas tópicos. Cada um desses assuntos daria muito pano para manga, não bastaria você chegar aqui, ler, entrar no redondel com seu cavalo e sair dando pressão indiscriminadamente em seu parceiro de quatro patas cada vez que ele fizer algo que você considere errado.
Tenha sempre em mente que toda vez que seu cavalo sentir medo de algo, ele vai acionar seu instinto de fuga, pois esse mesmo sentido é sua defesa principal, todas as outras características estão ligadas a esse instinto.
Ter paciência é realmente uma qualidade para quem lida com cavalos, mas ela “solita”, definitivamente não basta. Estudar o comportamento equino, buscar entender das suas necessidades como espécie, buscar olhar o mundo pelos olhos do outro para uma comunicação mais efetiva, são características dentro de muitas que realmente farão a diferença para quem busca entender e ensinar algo para seu parceiro de quatro patas.
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